sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pesquisa aponta para a redução do consumo após a crise

As classes C e D começaram a cortar itens de suas cestas de consumo (inclusive alimentos) e mostrar preocupação com uma inflação maior e um crescimento menor da economia. É o que mostra pesquisa realizada pelo Ibope em cinco capitais e no Distrito Federal.

A crise financeira internacional já bateu às portas dos 400 entrevistados entre 7 e 9 de outubro. Aproximadamente 26% disseram que reduziram as compras de alimentos da cesta básica. Outros 24% deixaram de gastar com lazer. Também houve corte no consumo de artigos de vestuário (19% dos pesquisados) e atraso no pagamento de prestações (20%).

Segundo o Ibope, essas foram as reações das classes C e D à crise, já de conhecimento de 69% dos entrevistados - que dizem ainda que ela já afeta o seu dia-a-dia. Para 49% dos ouvidos, a crise vai ter impacto no Brasil, apesar de a economia estar sólida.

Os consumidores revelaram ainda que a volta da inflação de um modo geral – apontada por 35% dos entrevistados – e, especialmente, o aumento do preço dos alimentos (30%) são os principais temores causados pela crise.

Cesta básica encaresse
O custo da cesta básica subiu em 15 das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), segundo estudo divulgado no último dia 6. O aumento dos preços dos alimentos, depois de dois meses de queda, pressionou o resultado.

Segundo o Dieese, em outubro, o salário mínimo necessário para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família (com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência) deveria ser R$ 2.014,73. O valor 4,85 vezes o piso nacional (R$ 415), maior, portanto, que o de setembro quando correspondia a R$ 1.971,55, conforme a instituição.

A crise já atingiu em cheio o carrinho de compradas da dona de casa Maria Helena Silva. “Minha compra do mês ficava entorno de R$ 250. Agora, ultrapassa a casa dos R$ 300, mesmo comprando só o necessário”, afirma. Para ela, a receita é ter cautela na hora das compras e passar mais vezes no supermercado. “A saída é pesquisar bastante e comprar em pequenas quantidades à espera de preços mais em conta.”

Nadando contra correnteza
Desde janeiro deste ano, o preço do feijão caiu 35,5%, revelou pesquisa da pesquisa da Secretaria Municipal de Abastecimento (Smab). O quilo do produto que no início de 2008 chegou a custar, em média, R$ 6,61, passou a ser vendido nos hipermercados em Belo Horizonte, no mês de novembro, a R$ 4,26. No mesmo período, o arroz subiu R$ 31,7%. Porém, desde maio, o grão apresenta estabilidade. O saco de cinco quilos que era comercializado a R$ 11,02 naquele mês, atualmente aparece nas gôndolas por R$ 11,11, em média.

Fazia tempo que o litro de leite não estava tão barato. Nos supermercados, o preço do produto longa vida caiu quase 5% nos últimos doze meses, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. O que fez o preço do leite cair foi o aumento na oferta. Até o início do ano, os produtores recebiam R$ 0,20 a mais em cada litro vendido. “De olho nas exportações, eles investiram em tecnologia e aumentaram a produção em 20%. Mas as vendas para fora do país não aconteceram e sobrou leite no mercado”, explica a coordenação da pesquisa.

Supermercados de Minas
O crédito mais caro e escasso nos bancos forçou os supermercados a reverem investimentos e a cortarem planos de expansão previstos para o ano que vem em Minas Gerais. Embora a expectativa das empresas seja de uma retração de vendas localizada nos departamentos de bens duráveis, a exemplo dos eletroeletrônicos, como efeito da crise financeira mundial, algumas redes já decidiram pelo adiamento de projetos e o setor vai investir no mínimo R$ 50 milhões a menos em 2009, na comparação com os números deste ano, informou o presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), José Nogueira Soares Nunes.

O volume de recursos deverá cair a R$ 130 milhões, frente aos desembolsos de 2008, que deverão alcançar R$ 180 milhões. “Há uma cautela natural neste momento, já que empréstimos nos bancos ficou mais difícil. Não houve cancelamento de projetos, mas alguns deles foram adiados”, disse o presidente da Amis.

A Associação Mineira de Supermercados ouviu 20 empresas associadas, na tentativa de perceber o impacto esperado da crise. Apesar da redução dos investimentos, não haverá demissões e a visão dos supermercadistas mantém uma dose de otimismo, segundo Nogueira Soares, principalmente para as vendas de Natal. Os negócios motivados pela data no ano passado foram os melhores da década, representando crescimento de 8,4% frente a 2006. A intenção, agora, é repetir o resultado.

“Não se trata de um otimismo sem fundamentos. Os supermercados são o setor menos afetado pelas crises cíclicas da economia e pela falta de crédito”, justifica o presidente da Amis. Ainda assim, Nogueira Soares disse que em 2009 serão necessários mais promoções e um trabalho redobrado de convencimento dos fornecedores para o varejo evitar reajustes de preços.


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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Novas perspectivas na prática da Comunicação

As novas perspectivas da prática prossional. Esse foi o tema da Semana da Comunicação, evento promovido pela faculdade Estácio de Sá-BH entre os dias 27 e 30 de outubro.


Um dos principais assuntos discutidos foi a convergência de mídia no jornalismo e na publicidade. Robson Leite, analista de mídias convergentes do Grupo Associados Minas, destacou que os profissionais recém formados ainda não estão preparados para todas as possibilidades proporcionadas pela internet. Porém, ele ressalta que os estudantes estão mais predispostos e atentos as transformações sofridas nas plataformas tradicionais do jornalismo.


Em 2005, os Associados Minas iniciaram o processo de sinergia, com o projeto de união de redações. Com isso, Robson Leite acredita que será possível realizar uma cobertura jornalística melhorada. Ele finaliza afirmando que ninguém sabe para onde vamos, mas temos que encarar os desafios propostos pelo advento da Web 2.0.


Já publicitária Andrea Loureiro, da agência Mídia do Ano, falou da importância do público como colaborador ativo. Segundo ela, os consumidores estão criando os seus novos produtos e desenvolvendo conteúdos relevantes. Andrea encerrou a sua participação destacando a importância do marketing viral para a comunicação.


A assessoria de imprensa na esfera pública, o processo criativo nas novas tecnologias, o debate sobre o obrigatoriedade do diploma e a inserção de alunos no mercado de trabalho, também foram outros assuntos discutidos durante a Semana da Comunicação, realizada pela Faculdade Estácio de Sá, em Belo Horizonte.

domingo, 13 de julho de 2008

TV por assinatura: quem assiste também paga para comprar!!!

Por Jonatas Andrade

O relógio despertador na emergência de um alvoroço sonoro marcava 8 horas da manhã de um dia, que aparentava ser como outro qualquer, inserido numa semana de rotina quase inalterada. Acordei como se estivesse no piloto automático e lembrei que era domingo, estava sem compromissos. Não conseguia mais voltar a dormir e a televisão poderia ser a melhor alternativa quando não se desejava sair do leito de descanso. Certamente, em meio a tantos canais da TV por assinatura, seria possível encontrar uma emissora que saciasse a vontade de navegar pelas ondas do entretenimento televisivo matutino. Afinal de contas, não iria nem tentar zapear pela TV aberta, que naquele horário, provavelmente, surfava por sobre as ondas dos mais variados tipos de merchandising.

Um perfeito engano, afinal o horário matinal é quase inapropriado para a diversão gratuita. O vasto cardápio de canais oferecido pelas operadoras TV por assinatura não passa de uma mera ilusão de ótica, uma miragem. Pagamos para assistir informeciais ou informes publicitários – aqueles blocos comerciais de empresas que alugam horários em emissoras. A SKY é um exemplo de operadora que disponibiliza canais com esse tipo de conteúdo. Controlada pela The DirecTV Group e pelas Organizações Globo, a operadora oferece cerca de 150 canais, dos mais diversos gêneros, aos 1,6 milhão de assinantes no Brasil. É bom lembrar que o universo de usuários tupiniquins da TV paga ultrapassa a casa dos 5,3 milhões, engordando os bolsos dos conglomerados de comunicação em R$ 6,7 bilhões, somente no passado, de acordo com o último levantamento da Associação de Brasileira de TV por Assinatura (ABTA).

Por pouco mais de R$ 100, em média, o assinante tem direito a alguns canais segmentados, dentre eles o Universal Channel; Discovery Channel, Travel & Living, Home & Health; People + Arts; The History Channel; E! Entertainment; FX e A&E. O que espanta em relação aos canais mencionados é que todos os nove transmitem programação idêntica, no mesmo horário. A segmentação de programas, na faixa entre 8h e 10h da manhã nos finais de semana, se resume à venda de produtos das linhas de cuidados pessoais; utilidades domésticas; cama, mesa e banho; informática; eletroeletrônicos, etc.

Não há escapatória, a TV está infestada pela praga do merchand. Ainda não inventaram inseticida que extirpe essa erva daninha dos nossos televisores. A TV aberta foi o primeiro hospedeiro dessa peste. Algumas empresas, que antes compravam faixas integrais de horários, agora decidiram diversificar suas incursões em programas de baixa audiência e de qualidade duvidosa. Como se não bastasse, a onda de merchandising invadiu os canais de TV por assinatura. Inserções, que variam entre 30 segundos e 3 minutos, se tornaram freqüentes nos intervalos dos canais fechados. No início da manhã, nas madrugadas e finais de semana, horários inteiros foram alugados para veiculação desse conteúdo indecente.

Pagar para assistir as opções entretenimento oferecidos por alguns canais fechados é o mesmo que pagar para ver e, ao mesmo tempo, comprar pela telinha, em tempo real, suplementos alimentares, emagrecedores, depiladores, aspirador de pó, vassoura e escova elétrica para cabelo.

Produtos mirabolantes e porções milagrosas também fazem parte do menu oferecido pelos canais especializadas em vendas 24 horas. Como se não bastasse, a mesma SKY tem a desfaçatez de oferecer em seu pacote de programação mais inutilidades na linha de vendas. A operadora de TV por assinatura dispõe de mais quatro canais especializados em induzir o telespectador a comprar, freneticamente, produtos supérfluos.

No quesito muambas estrangeiras, o Polishop tem sido o responsável pelas principais violações às grades de programação da TV brasileira, com o intuito de anunciar produtos vendidos pelo telefone. Essa distribuidora paulista se especializou em comercializar bugigangas de origem internacional, acompanhadas por promessas de desempenho que nem sempre correspondem com a realidade. O mix de engenhocas ofertadas chegaria a 120 produtos, metade importada. De acordo com matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, em 03 de setembro de 2007, a empresa Polishop, “que vende desde calcinha com enchimento para bumbum até equipamentos de informática”, à época, alugava cerca de 14 horas diárias da programação de sete canais pagos.

Segundo a revista Istoé Dinheiro, na edição de 23 de agosto de 2006, o faturamento estimado da empresa era de R$ 100 milhões, num setor que movimentaria R$ 1 bilhão, por ano. No ranking dos 300 maiores anunciantes do jornal Meio & Mensagem, a Polishop ocupava a 52ª posição, investindo R$ 37,9 milhões em publicidade em 2005 – 77% a mais que no ano anterior. No mesmo ano, a empresa foi uma das 11 acusadas pela Polícia Federal de participar de um esquema de fraude às importações. O relatório da PF e da Receita Federal, naquele período, apontou que o esquema teria importado de maneira fraudulenta R$ 1,1 bilhão nos últimos quatro anos. A informação é do jornal Folha de S. Paulo de 26 de novembro de 2006.

O precursor na categoria estelionato televisivo foi o Shop Tour, criado em 1987, com programação especializada em anúncios de ofertas e oportunidades de produtos e serviços diversos. O canal transmite 24 horas de programação diária, composta por mais de 25 mil comerciais veiculados anualmente. Seguindo a mesma linha, a Globosat fundou, em 1995, o Shoptime. O canal acabou se tornando uma empresa de varejo que possui ainda como meios de venda um site e um catálogo. Com a ascensão desse segmento, a marca foi comprada pelo grupo Lojas Americanas, em 2005, e hoje a empresa faz parte da B2W - Companhia Global de Varejo que possui as seguintes marcas: Americanas.com; Shoptime; Submarino e Ingresso.com.

O filho caçula da esculhambação comercial televisiva atende pelo nome de Giga Shopping TV. Considerada uma das maiores lojas portuguesas pela internet, virou canal de televisão por assinatura focado em televendas de quinquilharias. No Brasil, somente os assinantes da SKY têm o desprazer de assistir a emissora.

Para aqueles que não conseguem conter a ânsia consumista ou sofrem de oneomania – doença relacionada à compra compulsiva – a operadora de TV por assinatura oferece ainda outra opção mais veloz para saquear o seu bolso e desestabilizar suas finanças: “SKY Compra Rápida”. Com essa ferramenta você compra pelo controle remoto e alimenta o seu vício a base de pequenas parcelas fixas.

Realmente ninguém mais está imune a enxurrada de anúncios na televisão. A TV paga, que até então era um espécie de reduto para os exilados da TV aberta, se tornou um antro de propagandas, programas e canais de vendas. O home shopping ou supermercado eletrônico arrendou alguns horários e programações em detrimento de conteúdos originais que deixaram de ser veiculados e até mesmo produzidos para a TV por assinatura.

O mercado brasileiro de TV por assinatura é dominado por duas operadoras, a Net e a Sky, que respondem por 78% do total de assinantes no país. “Isso significa que nenhum canal ou produtor consegue se dirigir à maioria do público sem a bênção de ambas”, afirma a reportagem publicada pela revista Veja em 18 junho de 2008. A decisão sobre o que assistir é realmente do telespectador-assinante? O usuário tem a opção de comprar um pacote de programação que não contemple os canais de vendas? “Vendas” também é um gênero de conteúdo da TV por assinatura assim como cinema, informação, infantil, esportes e variedades? Sendo supostamente um gênero, por que não vender essa opção à la carte? A resposta é simples: ninguém ou quase ninguém a compraria para comprar.

Os pacotes programação já vêm prontos, montados conforme os interesses comerciais da operadora de TV por assinatura, o que obriga o telespectador a adquirir vários canais que não deseja para que possa ter, por exemplo, um canal de esportes. Como não existe a mínima possibilidade de se extinguir os canais de vendas da TV paga, o Projeto de Lei - PL 29/2007 pode ser considerado uma alternativa paliativa. A proposta, do deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ), pretende coibir o excesso de publicidade nos canais de televisão por assinatura.

Pela redação do deputado, a publicidade seria limitada em moldes parecidos com o que já existem na TV aberta. Assim, a publicidade, em cada canal, não poderá exceder 25% do total diário e 30% de cada hora. Além disso, o projeto cria novas regras para o mercado de TV por assinatura, produção e distribuição de conteúdo. A proposta enfrenta resistência dos conglomerados de comunicação devido à previsão de cotas para conteúdos nacionais dentro dos pacotes comercializados pelas operadoras, e por estabelecer limites para participação de empresas de telefonia nos mercados de produção e programação de conteúdo. O projeto tramita em caráter conclusivo na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados e está na pauta para ser votado, provavelmente, ainda no mês de junho. Agora é, literalmente, esperar para ver, ou melhor, assistir de camarote quem irá vencer essa batalha de gigantes. Enquanto isso: dá-lhe bugigangas na TV por assinatura! Afinal de contas, quem assiste também paga para comprar.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Alta do trigo deixa pãozinho indigesto

O preço do pão continua salgado, pelo menos no paladar dos consumidores mineiros. A Medida Provisória (MP) que suspendeu, no último dia 27 de maio, o recolhimento do impostos PIS e Cofins sobre o trigo e o pão francês, até 31 de dezembro deste ano, ainda não desonerou o bolso do consumidor. Uma pesquisa realizada pelo site Mercado Mineiro, mostra que o quilo do pãozinho de sal continua aumentando. Na semana anterior ao anúncio feito pelo governo o preço subiu 0,26% em Belo Horizonte, segundo estimativas do site. O aumento acumulado é de 33% desde de janeiro.

Os produtos derivados do trigo e da farinha estão seguindo a tendência da inflação. De 19 a 27 de maio, a pesquisa do Mercado Mineiro mostrou que o preço médio do quilo do pão aumentou e passou de R$ 7,15 para R$ 7,63. A dona de casa Maria Helena Santos, 46 anos, já está sentindo no bolso o reajuste dos produtos que contém o trigo. “Estou revendo minha lista de compras. Não dá mais para abusar da farinha de trigo e das massas. Macarrão agora só nos finais de semana e o pãozinho de sal já substituí pelo biscoito”, disse.

De acordo com a aposentada Ivonete Costa, 65 anos, o consumo diário de 10 pães tem pesado no orçamento doméstico. Gastando cerca de R$ 60 com pães, por mês, ela afirma que não tem como cortar o hábito dos quatro integrantes da família. “Mesmo com o aumento do preço dos pães a rotina continua a mesma. A alternativa foi comprar na mão do padeiro que vende os pães a R$ 0,20 cada”, conta. Para o padeiro Alexandre Martins, 21 anos, não houve alternativa. Ele preferiu congelar o preço do pãozinho vendido no bairro Goiânia, região Nordeste da capital. Mesmo com a medida, ele destaca que as vendas já caíram devido à criatividade dos consumidores. “Antes do aumento, vendia, em média, 800 pães por dia. Hoje, minha venda caiu pela metade. As pessoas têm procurado outras opções, como fazer bolos e biscoitos.”

Medida Provisória
A principal mudança é a isenção de PIS e Cofins até o fim do ano para trigo in natura, farinha de trigo e pão francês. Antes da aplicação da medida, esses impostos possuíam alíquota de 9,25%.

O governo decidiu baratear o transporte do trigo que vem sendo importado dos Estados Unidos e do Canadá para compensar a falta de importações da Argentina. O problema é que, além de ter preço mais alto, o trigo oriundo dos dois países também tem frete maior. Enquanto uma importação de trigo argentino chega ao Brasil em menos de uma semana, a dos EUA demora pelo menos 40 dias. O custo do frete cairá 25% com a isenção de uma taxa destinada ao Fundo de Renovação da Marinha Mercante.

Por fim, o governo estendeu o prazo para importação de trigo de países fora do Mercosul com tarifa zero, que passou de 30 de junho para 31 de agosto. Em troca, os produtores de trigo se comprometeram a repassar a queda no custo de produção para o consumidor ou evitar que o produto continue subindo.

Dependência do trigo
As importações brasileiras de trigo somaram 201,3 mil toneladas e US$ 73,6 milhões no primeiro trimestre deste ano. O país é o segundo maior produtor mundial de biscoitos, com faturamento anual de R$ 7,41 bilhões. No setor de massas, o Brasil é o terceiro produtor do mundo, com faturamento de R$ 4,67 bilhões.

O preço da farinha de trigo brasileira na indústria, segundo a Associação Brasileira das Indústria de Massas Alimentícias (Abima), passou de R$ 1.066 para R$ 1.312 a tonelada, entre 2007 e 2008, uma alta de 23,07%. No ano passado, o item já havia subido 19,33% na comparação com 2006. As massas também subiram neste mesmo período, em média 25%, e os biscoitos e bolachas, mesmo as doces, estão cerca de 21% mais salgados.


Os problemas no setor de trigo ocorrem devido ao crescimento da demanda mundial, a quebra de safras em alguns dos principais produtores e a diminuição dos estoques nas últimas décadas. Segundo especialistas, o resultado final para o Brasil, que importa até 70% do trigo que consome, é a maior crise do setor nos últimos 20 anos.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ativismo ambiental: uma herança dos anos de chumbo

Eliminar as fronteiras nacionais e substituir as bandeiras que representam as nações por outra com simbologia única – a imagem do planeta Terra. Estes foram alguns dos principais pontos levantados pelo médico e coordenador-geral do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, 65 anos, em debate acerca de “Maio de 68”.

Ele atuou como militante no Movimento Estudantil dos anos 60, período da Ditadura Militar no Brasil. Esse engajamento gerou bases sólidas para se entregar por completo ao ativismo ambiental na década de 1990. Mas até chegar à luta pelo meio ambiente, Apolo Heringer, o filho mais velho de uma família evangélica composta por oito irmãos, foi preso três vezes e mandado ao exílio pelos militares.

Na clandestinidade como guerrilheiro e após sobreviver às perseguições, intensificadas com Ato Institucional Número Cinco (AI-5), Apolo viajou pelo mundo e retornou ao Brasil para assumir cadeira no Partido dos Trabalhadores (PT) de Minas Gerais. Com o fim do encanto pela política partidária, ele decidiu implementar o Projeto Manuelzão. “Quando deixei o PT senti como se tivesse morrido. Minha vida havia perdido o sentido, assim como as minhas ideologias políticas”, disse.

O renascimento de Heringer para as causas sociais se deu pela autoria do projeto que viria a se tornar uma referência na busca pela revitalização dos rios que compõem a Bacia do Rio das Velhas. “A volta dos peixes aos rios dos 51 municípios que compõem a bacia é o nosso objetivo. Isso significa a melhoria da condição de vida das pessoas que moram naquelas margens”, destaca o ambientalista.

Segundo Apolo Henriger, a bacia hidrográfica do Rio das Velhas foi escolhida como foco de atuação por ser uma forma de superar a percepção municipalista das questões ambientais. Ele salientou as dimensões dessa bacia que deságua no Oceano Atlântico. “O Rio das Velhas, cujas nascentes estão localizadas em Ouro Preto, é o maior afluente, em extensão, da bacia do rio São Francisco.”

O ativista participou, no último dia 30, do debate “Do Movimento Estudantil ao Movimento Ambientalista”, promovido pelo curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio Sá – BH. A discussão fez parte do projeto “
1968: o sonho acabou?”, que contou com a participação de sociólogos, jornalistas e militantes no ciclo de debates sobre o legado dos anos de chumbo”.

Perfil
Além de idealizador e coordenador-geral do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer é fundador do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas. Também escritor, ele atua ainda nas ações contrárias à transposição do rio São Francisco. Médico graduado pela UFMG, em 1967, ele é especialista em Pneumologia pelo Centro Hospitalar Universitário de Beni-Messous (Argel), e em Epidemiologia, pela Universidade Livre de Bruxelas. Professor da Faculdade de Medicina, atua também como supervisor do Internato em Saúde Coletiva, conhecido como Internato Rural, da instituição.

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domingo, 20 de abril de 2008

Escambo socialmente responsável

Projeto incentiva coleta seletiva de lixo em BH

Conscientizar a população através da troca de material reciclável por alimento, brinquedo e utensílio escolar em Belo Horizonte. Este é o objetivo do Projeto de Lei nº. 1460/07, aprovado em 1º turno, no dia 02 de abril passado, que propõe a criação do Programa Câmbio Verde.

O vereador Fred Costa (PHS), autor do projeto, pretende obter o mesmo sucesso alcançado pela iniciativa semelhante implantada, há 15 anos, na cidade de Curitiba, no Paraná. "O projeto incentivará o belo-horizontino a reciclar o próprio lixo, aliando a consciência ecológica à preocupação social. Desta forma, a população receberá os benefícios da coleta e da reciclagem", explicou o parlamentar.

De acordo com o vereador, a iniciativa proporciona a economia de matérias-primas e de energia, a redução do volume de material encaminhado a aterros sanitários e a diminuição da poluição ambiental em geral. A proposta será implementada e gerenciada pelo Executivo. As trocas serão efetuadas em postos, previamente, cadastrados pela PBH. O projeto deve ser votado em segundo turno ainda neste mês.

A proposta tramitou pelas comissões de Legislação e Justiça da Câmara Municipal, Meio Ambiente e Política Urbana, Saúde e Saneamento e de Orçamento e Finanças da Câmara Municipal de Belo Horizonte, antes de ir a plenário.

Para acompanhar a tramitação desse projeto clique aqui e insira somente o número na ferramenta de busca.

Asfalto ecológico

As empresas responsáveis pela pavimentação asfáltica da capital mineira já são obrigadas a usar pelo menos 15% da borracha de pneus velhos na composição do produto. A decisão foi tomada, em 18 de março, durante votação na Câmara Municipal, que derrubou, em 2º turno, o veto do prefeito Fernando Pimentel à iniciativa. A proposta necessitava de 21 votos e teve a adesão de 22 parlamentares.

Com isso os pneus velhos, considerados lixos ambientais, serão empregados como matéria-prima para asfaltar e recapear ruas e avenidas da cidade. A proposta atende à recomendação do Ministério Público quanto à reutilização de pneus pelos municípios, sob pena de fiscalização da Polícia Militar de Meio Ambiente. “Com a nova lei, os danos causados ao meio ambiente serão, conseqüentemente, reduzidos”, diz o vereador Fred Costa (PHS), autor do Projeto de Lei nº 1.261/07.

Essa solução de reciclagem resolve um antigo problema ambiental brasileiro. "Cerca de 41 milhões de pneus são produzidos no Brasil por ano. Apenas 10% é reaproveitado. É uma proposta ambientalmente correta", disse Costa. Ele complementa destacando que o projeto é vai proporcionar um desenvolvimento sustentável ao município, dando uma destinação ecologicamente correta para parte dos pneus usados. "As pesquisas comprovam que, após três anos de uso, o asfalto ecológico reduz, em até 30%, os custos em relação às misturas tradicionais, gerando menos gastos e ajudando a conservar o meio ambiente.”

A técnica já é utilizada em São Paulo e Curitiba (PR). Em Belo Horizonte, o asfalto ecológico foi usado no Boulevard Arrudas para capear a pista de rolamento, além do trecho inicial da Linha Verde, obra do governo estadual, realizada em outubro de 2006.

Veja como pneus velhos são reprocessados em usinas de asfalto, dando origem ao asfalto-borracha. A matéria foi veiculada no programa Cidades e Soluções, da Globo News. *O vídeo não dispõe do código ambed para vizualização direta no blog Análise Editorial. Assista!

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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Sociedade acrítica!


A apatia da sociedade diante das amarras impostas por aqueles que detêm o poder e formulam o discurso dominante. Este é o enredo da crítica social, retratada na letra “Até quando?”, de Gabriel Pensador.

“Até quando você vai ficar usando rédia / Rindo da própria tragédia? / Até quando você vai ficar usando rédia / Pobre, rico ou classe média? / Até quando você vai levar cascudo mudo? / Muda, muda essa postura / Até quando você vai ficando mudo? / Muda que o medo é um modo de fazer censura”, diz um trecho, incisivo da música.

Gabriel explicou, durante a Semana de Palestras de Jornalismo (Sepaj), que fez a letra por estar irritado com o governo de Fernando Henrique Cardoso “pela compra de deputados para aprovarem a reeleição dele”. À época, o cantor lia Para entender o Brasil, de Luiz Panhoca, livro que o influenciou. “Estava à flor da pele”, revelou ao contar que ficou surpreso com as reações das pessoas “que levavam essa música para a vida delas”. Ao responder um aluno que o assistia, Gabriel ponderou que, no Brasil, “fazem mais falta os valores morais – principalmente dos políticos - do que os financeiros”.

A decepção com a classe política e com o atual governo – “foi um momento de esperança” – lamentou, apesar de considerar alguns pontos positivos. “Tem índices favoráveis na economia, mas esse governo cortou nossa onda”. O cantor destilou humildade ao reconhecer que não tem fórmulas para isso. “Movimentos, protestos. A classe artística poderia se engajar mais, jogadores de futebol, ator pornô e tal. As pessoas têm as ONGs com trabalhos interessantes. Não é só reclamar, mas trabalhar na sua comunidade, na favela ao lado”.
Confira a letra na íntegra!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Jornalismo: uma revolução na Era Digital

O norte-americano Mark Briggs, autor do livro “Jornalismo 2.0: Como sobreviver e prosperar”, observa que, ao longo de sua história, o jornalismo nunca sofreu mudanças tão radicais e aceleradas quanto as que estão acontecendo em decorrência da Internet. Para o autor, essa transformação conduz para o processo de reinvenção do jornalismo.

Mark Briggs, que também é editor online do jornal The News Tribune, de Tacoma, Washington (EUA), apresenta o livro como um manual prático que incorpora elementos teóricos capazes de dar aos leitores condições de ingressar no mundo do jornalismo digital. A obra pretende ser um guia de cultura digital na era da informação, com associação do conceito de jornalismo 2.0 à idéia da colaboração entre profissionais e o público.

“Jornalismo 2.0” explica as características da Web, detalha alguns conceitos básicos como o da Web 2.0, mostra o funcionamento de novos equipamentos eletrônicos, destacando suas aplicações no exercício do jornalismo.

O livro consegue falar a dois públicos bem diferentes: os veteranos do jornalismo, que encontrarão nele os, elementos essenciais para entrar no mundo das novas tecnologias da comunicação; e os mais jovens, que enfrentam o desafio de entrar num mercado de trabalho cujos valores e rotinas mudam a todo instante.

O jornalismo online e sua versão 2.0 compõem a base do processo de produção colaborativa online de notícias. Nesse caso, o jornalismo é visto como uma conversa entre profissionais e o público. Um conceito absolutamente novo e que provoca muita polêmica, por desmontar desconfianças e preconceitos passados entre quem publica e quem consome informação, o que por si só já é uma tarefa complicada.

A publicação, em português, do livro de Mark Briggs ajuda os profissionais do jornalismo a repensar sua atividade não mais apenas como uma forma de publicar notícias, mas também como um canal para interação ou orientação de leitores.

terça-feira, 11 de março de 2008

Conteúdo democrático na internet

O jornalismo como instrumento de cidadania é o ponto de partida para o trabalho de conclusão de curso do estudante do 7º período de Comunicação Social da Faculdade Estácio de Sá - BH e radialista, Antonélio Geovan de Souza, 33 anos. Dentro das novas possibilidades oferecidas pela internet, o universitário decidiu analisar a função dos blogs no processo de democratização da informação.

Para Antonélio Souza, o blog é uma nova plataforma digital que agrega, além da facilidade de acesso, a convergência de várias mídias. Ele acredita que a internet permite a transformação na postura do usuário. “O leitor sai da passividade e inicia um processo de construção de conteúdo”, disse. O estudante destaca que, atualmente, o jornalismo tradicional passa por um momento de transição que contribui para a ascensão de novos produtores de informação. “Na internet o usuário tem liberdade de opinião e sempre vai ter público”, explica.

Mineiro de Pompéu e atuando há 15 anos como locutor, hoje na 98 FM, ele afirma que desistiu de analisar o rádio como veículo de comunicação devido à “saturação” do tema. De acordo com Antonélio, a implementação da convergência nesse tipo de mídia ainda não passou do caráter teórico. Outro dificultador apontado pelo estudante é a ausência de pesquisas sobre as novas tendências desse meio de comunicação.

Apesar de ser autor de um blog, no momento, o maior desafio enfrentado pelo estudante de Jornalismo, durante as pesquisas, é a falta de conhecimento aprofundado sobre essa ferramenta da Internet. Para driblar esse empecilho, António Souza tem adequado a sua rotina no âmbito de um rigoroso planejamento fundamentado na leitura de obras sobre o assunto, além de exercitar constantemente a produção de conteúdo para o blog durante as aulas de Jornalismo Online I na Estácio de Sá. “Estou lendo mais e me planejando para ‘linkar’ as idéias”, finaliza.
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sábado, 23 de fevereiro de 2008

Eutanásia política

A renúncia de Fidel Castro, 81 anos, à Presidência de Cuba, anunciada na última terça-feira, 19, ratificou a eutanásia política do líder comunista que há quase meio século estava no comando da ilha. "Trairia minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total que não estou em condições físicas de oferecer. Digo-o sem dramatismo", escreveu o ditador que, com a exceção de monarcas, era o mais longevo chefe de Estado, em mensagem publicada pelo jornal oficial do Partido Comunista Cubano, o Granma.

A saída de cena do líder da
Revolução Cubana, na prática, não refletirá na inércia de Fidel frente ao futuro do país. O seu fragilizado estado de saúde, provocado por uma doença não revelada, o obrigou a transferir o poder, há um ano e meio, ao irmão Raúl, de 76 anos, que segue na Presidência interina e pode ser escolhido o novo líder do país pelo Parlamento. A renúncia abre caminho para Raúl sucedê-lo no governo com uma pseudo-autonomia.

Fidel, que se manterá no cargo de primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba, estabeleceu-se como membro do parlamento e, provavelmente, será eleito como um dos 31 membros do Conselho de Estado. A renúncia, daquele que liderou a Revolução Cubana, nada mais é do que uma tentativa intencional e estratégica de encerramento gradativo da vida política de alguém que, presumivelmente, não externa qualquer esperança de recuperação, ou seja, um presságio da sua morte.

A odisséia revolucionária de Fidel Castro teve início com a mobilização do Exército Rebelde que, liderado por ele, foi uma força armada constituída, desde de 1952, para depor o governo ditatorial de Fulgêncio Batista. Após uma tentativa fracassada, em 1956, o exército voltou a reunir-se com apoio popular e, em apenas dois anos, venceu as forças militares do regime. Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos também estiveram à frente da Guerra de Libertação Nacional (1956-1958) que culminou na vitória da Revolução Cubana em 1º de Janeiro de 1959. Com a derrubada do regime ditatorial, consolidada com a fuga de Batista, Fidel Castro foi conduzido ao Governo cubano.

O ousado líder guerrilheiro, que se encontra num estado precário de saúde, sobreviveu a dezenas de tentativas de homicídio, uma invasão apoiada pela CIA e uma crise de mísseis que quase culminou numa guerra nuclear. A empreitada mais famosa, entre os dez governos norte-americanos que tentaram derrubá-lo, foi a desastrada invasão da Baía dos Porcos em 1961.

A invasão mal-sucedida foi uma espécie de insurgência cometida por mais de mil e duzentos exilados cubanos oriundos de Miami, que pertenceram ao regime de Fulgêncio Batista, apoiados pelos Estados Unidos. Os rebeldes acreditavam que o assassinato de Fidel era o único meio de se pôr fim ao incômodo governo socialista recém-formado. Em apenas três dias de combates, Fidel declarou vitória sobre a revolta orquestrada pelo país do Tio Sam.

O governo norte-americano rompeu relações com Cuba em 1961. A medida contribuiu para a aproximação de Fidel com a União Soviética, após a declaração da revolução socialista por Havana. Em 1962, os EUA impuseram uma série de sanções à ilha, dando origem a um embargo econômico, comercial e financeiro ainda vigente.

A economia cubana agonizou durante muito tempo, prova disso é que, só agora, o padrão de vida da população está retornando aos níveis do final dos anos 80. Mas a miséria na ilha ainda não salta aos olhos. Uma pesquisa da ONU, realizada em 2004, revelou que o índice de pobreza de Cuba era o sexto menor dentre 102 países em desenvolvimento.

O sentimento de insatisfação dos cubanos já não pode ser contido pelo governo ditatorial. Os baixos salários, em torno de US$ 15 por mês, são questões pontuais dentre as queixas dos cubanos. Até o sistema de saúde, que antes era um dos cartões de visitas da revolução, está cada vez mais sucateado.

Para os que defendem Fidel Castro, a justificativa é unânime, ele teria sido uma espécie de herói de uma revolução social e ícone de uma política socialista. Aos que são contrários a Castro, resta o argumento de que ele foi um líder de regime ditatorial baseado numa política unipartidária.

A eutanásia política de Fidel poderia desestabilizar o país, tendo em vista que o governo está diretamente ligado à figura do líder da revolução. No curto prazo, não deve haver profundas transformações em Cuba.

O irmão de Fidel tem estimulado a população a participar de um debate em torno de uma abertura controlada da economia cubana. Raúl Castro é um franco admirador do estilo de capitalismo adotado pela China. Utilizar a população como massa de manobra é apenas uma estratégia para atenuar possíveis conflitos populares, uma vez que a última palavra seria a dos líderes comunistas da ilha. A vitória, quase anunciada, do Partido Democrata nos Estados Unidos tende a extinguir o bloqueio econômico, isso daria uma espécie fôlego neoliberal a Cuba.