sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pesquisa aponta para a redução do consumo após a crise

As classes C e D começaram a cortar itens de suas cestas de consumo (inclusive alimentos) e mostrar preocupação com uma inflação maior e um crescimento menor da economia. É o que mostra pesquisa realizada pelo Ibope em cinco capitais e no Distrito Federal.

A crise financeira internacional já bateu às portas dos 400 entrevistados entre 7 e 9 de outubro. Aproximadamente 26% disseram que reduziram as compras de alimentos da cesta básica. Outros 24% deixaram de gastar com lazer. Também houve corte no consumo de artigos de vestuário (19% dos pesquisados) e atraso no pagamento de prestações (20%).

Segundo o Ibope, essas foram as reações das classes C e D à crise, já de conhecimento de 69% dos entrevistados - que dizem ainda que ela já afeta o seu dia-a-dia. Para 49% dos ouvidos, a crise vai ter impacto no Brasil, apesar de a economia estar sólida.

Os consumidores revelaram ainda que a volta da inflação de um modo geral – apontada por 35% dos entrevistados – e, especialmente, o aumento do preço dos alimentos (30%) são os principais temores causados pela crise.

Cesta básica encaresse
O custo da cesta básica subiu em 15 das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), segundo estudo divulgado no último dia 6. O aumento dos preços dos alimentos, depois de dois meses de queda, pressionou o resultado.

Segundo o Dieese, em outubro, o salário mínimo necessário para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família (com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência) deveria ser R$ 2.014,73. O valor 4,85 vezes o piso nacional (R$ 415), maior, portanto, que o de setembro quando correspondia a R$ 1.971,55, conforme a instituição.

A crise já atingiu em cheio o carrinho de compradas da dona de casa Maria Helena Silva. “Minha compra do mês ficava entorno de R$ 250. Agora, ultrapassa a casa dos R$ 300, mesmo comprando só o necessário”, afirma. Para ela, a receita é ter cautela na hora das compras e passar mais vezes no supermercado. “A saída é pesquisar bastante e comprar em pequenas quantidades à espera de preços mais em conta.”

Nadando contra correnteza
Desde janeiro deste ano, o preço do feijão caiu 35,5%, revelou pesquisa da pesquisa da Secretaria Municipal de Abastecimento (Smab). O quilo do produto que no início de 2008 chegou a custar, em média, R$ 6,61, passou a ser vendido nos hipermercados em Belo Horizonte, no mês de novembro, a R$ 4,26. No mesmo período, o arroz subiu R$ 31,7%. Porém, desde maio, o grão apresenta estabilidade. O saco de cinco quilos que era comercializado a R$ 11,02 naquele mês, atualmente aparece nas gôndolas por R$ 11,11, em média.

Fazia tempo que o litro de leite não estava tão barato. Nos supermercados, o preço do produto longa vida caiu quase 5% nos últimos doze meses, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. O que fez o preço do leite cair foi o aumento na oferta. Até o início do ano, os produtores recebiam R$ 0,20 a mais em cada litro vendido. “De olho nas exportações, eles investiram em tecnologia e aumentaram a produção em 20%. Mas as vendas para fora do país não aconteceram e sobrou leite no mercado”, explica a coordenação da pesquisa.

Supermercados de Minas
O crédito mais caro e escasso nos bancos forçou os supermercados a reverem investimentos e a cortarem planos de expansão previstos para o ano que vem em Minas Gerais. Embora a expectativa das empresas seja de uma retração de vendas localizada nos departamentos de bens duráveis, a exemplo dos eletroeletrônicos, como efeito da crise financeira mundial, algumas redes já decidiram pelo adiamento de projetos e o setor vai investir no mínimo R$ 50 milhões a menos em 2009, na comparação com os números deste ano, informou o presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), José Nogueira Soares Nunes.

O volume de recursos deverá cair a R$ 130 milhões, frente aos desembolsos de 2008, que deverão alcançar R$ 180 milhões. “Há uma cautela natural neste momento, já que empréstimos nos bancos ficou mais difícil. Não houve cancelamento de projetos, mas alguns deles foram adiados”, disse o presidente da Amis.

A Associação Mineira de Supermercados ouviu 20 empresas associadas, na tentativa de perceber o impacto esperado da crise. Apesar da redução dos investimentos, não haverá demissões e a visão dos supermercadistas mantém uma dose de otimismo, segundo Nogueira Soares, principalmente para as vendas de Natal. Os negócios motivados pela data no ano passado foram os melhores da década, representando crescimento de 8,4% frente a 2006. A intenção, agora, é repetir o resultado.

“Não se trata de um otimismo sem fundamentos. Os supermercados são o setor menos afetado pelas crises cíclicas da economia e pela falta de crédito”, justifica o presidente da Amis. Ainda assim, Nogueira Soares disse que em 2009 serão necessários mais promoções e um trabalho redobrado de convencimento dos fornecedores para o varejo evitar reajustes de preços.


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